Maria João Fernandes - Textos críticos


Os desenhos de Mário Rita intensa e poderosa expressão de incertezas e sonhos fundamentais, reinventam como toda a verdadeira linguagem em arte a história das formas, permitindo-nos recordar as palavras de um dos expoentes do neo-expressionismo alemão do qual está próximo:” Venho de parte nenhuma. Descendo de todos os pintores.” Arrancados a uma matéria subtil, onde a brancura do suporte abre luminosos rasgões, telúrica, ígnea, espiritual matéria ,estes desenhos demarcam uma atmosfera e um terreno por excelência do humano em afinidade com uma sensibilidade romântica.

(...) pela abertura a um mistério que radica no humano, luz tenebrosa, imagem de uma totalidade contraditória e maneirista que tão bem representa o imaginário moderno, cadinho onde fervilham todas as virtualidades do espírito e das suas formas.


O pintor escolheu muito cedo o seu referente nos territórios de um mistério de que o mundo é o espantado e maravilhoso ícone, remetendo o seu discurso para a figura humana desfeita, sinal de uma ausência anunciada, (...)

Dos gestos convulsivos, das inscrições vibrantes emergem ícones prodigiosos e fantasmáticos (...) habitantes do dédalo da história mítica do homem, reconquistados para a memória contemporânea e ícones da presença de emoções que explodem no instante de uma vivência profundamente e tragicamente contemporânea.

(...) Os gestos, os riscos, os trajectos que ligam a mão ao pensamento não aprisionam a figura, antes a captam no curso da sua migração fantástica entre universos, a luz e a noite, o ser e o não ser, a vida e o sonho.

Maria João Fernandes